SEGUNDA CIRCULAR - XX Encontro Nacional de Geógrafas e Geógrafos








XX Encontro Nacional de Geógrafas e Geógrafos – ENG

SEGUNDA CIRCULAR

1. SOBRE O XX ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFAS E GEÓGRAFOS

Data: 13 a 17 de julho de 2020
Local: Universidade de São Paulo (USP), São Paulo - SP
Tema: Brasil-periferia: a geografia para resistir e a AGB para construir
Site: https://eng2020.agb.org.br/ – Disponível a partir de 06 de janeiro de 2020.

2. PROGRAMAÇÃO



3. CRONOGRAMA DE ENVIO DE PROPOSTAS DE ATIVIDADES

4. VALORES DAS INSCRIÇÕES



5. EIXOS TEMÁTICOS

Os eixos temáticos direcionam as discussões que serão realizadas durante o XX ENG. Os eixos têm o papel de orientar as atividades do próprio encontro, como as mesas redondas, ESC, Oficinas e Minicursos, Geo na Rua e Trabalhos de Campo. Portanto, estes espaços citados foram pensados a partir da proposição dos referidos eixos temáticos. É importante frisar que os eixos temáticos se tratam de questões-problema sobre a realidade e não enquanto áreas da Geografia. Os eixos devem estar relacionados ao tema e ementa do XX ENG e fomentar debates nas diversas atividades e espaços que ocorrerão no encontro. Salientamos que os eixos temáticos não orientam o envio dos trabalhos submetidos ao encontro, já que estes devem ser enviados através dos Espaços de Diálogos e Práticas (EDP), que são direcionados pelas áreas gerais.

Eixos e ementas do XX Encontro Nacional de Geógrafas e Geógrafos

Eixo 01: Trajetórias agbeanas, diversidades e epistemológicas críticas na Geografia
Ementa: A contemporaneidade exige lidarmos com novos desafios. O avanço do conservadorismo e do neoliberalismo acuam aqueles que se propõe a pensar criticamente a sociedade. As ciências humanas de forma geral, e principalmente suas correntes mais críticas, estão ameaçadas, incluindo a ciência geográfica. Ao mesmo tempo em que outras epistemologias surgem no horizonte e novas formas de analisar o espaço emergem, construídas a partir das lutas feministas, raciais, LGBTQI+, decoloniais, multiplicam-se as interpretações e os olhares espaciais de sujeitos antes invisibilizados. A Geografia tem se dedicado a dialogar com assuntos tradicionalmente marginalizados pela ciência eurocêntrica e de raízes coloniais. A centralidade das discussões dos sujeitos subalternizados diante da colonialidade historicamente produzida, estão ocupando cada vez mais espaço nas escolas, nas universidades e nas ruas. Por isso, é fundamental que estes sujeitos em suas diversidades tenham sua representatividade e seu lugar de existência reconhecidos, bem como as epistemologias críticas que abarcam suas questões, reinventando processos de autonomia entre os povos, na busca da superação de discursos dominantes. Diante desta realidade torna-se necessária uma reflexão crítica sobre os rumos da ciência geográfica e o papel da AGB. Quais as relações estabelecidas entre a AGB e o pensamento geográfico brasileiro e tais epistemologias críticas supracitadas? Como a AGB deve colaborar para construir e fomentar os novos rumos da ciência? Qual deverá ser o papel e a postura da entidade diante destes novos desafios? E como estas outras perspectivas críticas se manifestam nas ações da AGB, nos lugares onde é presente e em escala nacional?

Eixo 02: Construir a AGB para reconstruir a Geografia Critica.
Ementa: A história do pensamento geográfico brasileiro está intimamente ligada a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB). O papel da entidade foi fundamental em alguns movimentos epistemológicos ocorridos no interior da Geografia, principalmente na década de 1980 (que introduziu novas perspectivas teóricas e metodológicas para o centro da discussão do interior da ciência e modificou toda a organização interna da entidade, democratizando-a). Portanto, buscamos propiciar a reflexão e avaliação da produção geográfica dos últimos 40 anos para construção efetiva de uma Geografia crítica via AGB, objetivando caracterizar o perfil que essa reflexão e prática vem assumindo pelas mãos de seus profissionais (licenciados e bacharéis).

Eixo 03: Relações Raciais e Interseccionalidades: Geografias, Lutas antirracistas e a AGB
Ementa: As hierarquizações étnicas e raciais possuem um papel histórico na construção da sociedade e consequentemente na produção científica brasileira. Os ataques a grupos indígenas e quilombolas; o genocídio da juventude negra nas periferias e favelas; as violências aos espaços sagrados das religiões de matriz africana e indígena; e as estruturas de opressão impostas as mulheres negras, são exemplos. A Geografia historicamente tem um papel fundamental na consolidação e naturalização dos “conhecimentos”, que através da colonialidade produzem a dominação de corpos, mentes e lugares. Partir de perspectivas antirracistas pressupõe o diálogo com novos paradigmas para compreender tais relações como elementos constituintes de práticas do espaço geográfico. Deste modo, propõe-se pensar as questões étnicorraciais e suas interseccionalidades não restritas a um campo específico da Geografia. A AGB advoga estar na trincheira da luta antirracista. Contudo, sabe-se que as dimensões do racismo se difundem socialmente, assumindo caráter estrutural e promove a sua reprodução em diversas escalas. Sendo assim, questionamos: como a AGB se posiciona nas lutas antirracistas? Em que medida e proporção a entidade encampa as teorias científicas, discursos e ações políticas que buscam a superação do racismo brasileiro? Como isso se manifesta nas atuações da associação na dimensão de suas seções locais e nacional? De quais formas a AGB vem atuando como articuladora dessas lutas entre geógrafas e geógrafos no Brasil, uma vez que assim se posiciona a organização?

Eixo 04: A ofensiva neoliberal e neoconservadora no(a) Ensino/Educação: o que a Geografia tem a dizer? 
Ementa: Historicamente a educação tem tido a função estratégica de produzir subjetividades/objetividades em favor da manutenção da ordem social do capital, determinada pelas necessidades da atual acumulação rentista e da produção de mercadorias, pelo lucro, pela exploração alienante do trabalho. O contexto político pós-eleições de 2018 aprofunda a precarização do trabalho e a desqualificação da docência como profissão, exigindo a análise e o compromisso de enfrentamento dos impactos da ofensiva neoliberal e neoconservadora no(a) Ensino/Educação. A reforma trabalhista e os novos modelos de relação de trabalho tendem a aprofundar a precarização da prática docente, além de confrontá-lo no seu papel efetivo na construção de políticas pedagógicas/ educacionais no cotidiano escolar. As políticas de avaliação externa da educação brasileira (inclusive dos professores, o provão do magistério), política de livros didáticos, currículos de formação de professores e as políticas recém-adotadas pelo Ministério da Educação (MEC) esvaziam e confrontam a formação do pensamento crítico e se articulam a novos modelos de currículos e métodos (BNCC) e um novo papel para o ensino médio (Lei 13.415/2017), retenção e/ou redirecionamento do ingresso no ensino superior. Contra estas pautas neoliberais, o papel político da geografia nesse contexto traz à tona a necessidade de reafirmar as bandeiras políticas da AGB na defesa da educação pública, gratuita e de qualidade socialmente referenciada nas lutas do povo brasileiro, da profissão docente e da Geografia como componente curricular. É indispensável que a geografia mostre o que tem a dizer.

Eixo 05: Geopolítica de recursos naturais e as novas formas de apropriação das águas, das terras e do subsolo
Ementa: O contexto geopolítico e econômico atual impõe a necessidade de reflexão sobre as novas formas de delimitação, apropriação e disputas dos recursos naturais e minerais no Brasil. Recentemente, os conflitos socioambientais se acirraram diante de uma fragilização e desmonte institucional de órgãos de fiscalização, legislação e controle do avanço das atividades econômicas predatórias, atingindo dezenas de comunidades tradicionais, como camponesas, ribeirinhas, quilombolas, indígenas e a sociedade civil em geral. Alguns exemplos são os crimes ambientais cometidos pela Vale S.A. e a expansão da fronteira agrícola com o avanço do agronegócio em direção ao Cerrado e a Amazônia. O pensamento geográfico é convocado a dar respostas e atuar nesses campos de disputa, produzindo conhecimento e revelando as contradições e resistências.

Eixo 06: Geopolítica atual e a saúde global
Ementa: A saúde se evidencia enquanto tema de pesquisa na geografia há ao menos duas décadas, pautando o compromisso para construção de uma sociedade mais equitativa. Tendo em vista a relevância cada vez maior do tema “Saúde global” na geopolítica atual, a geografia para a saúde visa compreender os fenômenos que assolam as vidas e não somente se restringir ao mapeamento de enfermidades. Os desafios políticos e territoriais impostos pelo capitalismo, atingindo especialmente a população mais pobre, se intensificam com o avanço do neoliberalismo e a ascensão da ultradireita, colocando a vida humana no limite da suportabilidade. O alinhamento dos pressupostos da Saúde Coletiva na ciência geográfica, principalmente no Brasil, tem como meta construir um desenvolvimento mais humano e democrático que possibilite avanços nas questões ambientais e/ou sociais. Assim, a geografia sai em defesa dos povos da floresta e das(os) trabalhadoras(es), a partir da análise e do enfrentamento das políticas de contaminação por agrotóxicos no campo e na cidade, revelando resistências e formas de produção alternativas, bem como representando a luta pela manutenção do Sistema Único de Saúde, como sistema universal e gratuito

Eixo 07: Disputas cartográficas nas dimensões do poder: imagens e políticas espaciais 
Ementa: A cartografia constitui-se em mais que uma técnica de representação dos fenômenos geográficos: também se estabelece enquanto linguagem para apresentar visões particulares sobre a realidade socioespacial e suas relações de poder. Vivemos em um tempo em que os discursos sobre o real e as disputas através das imagens estão cada vez mais presentes na esfera social. Os povos e comunidades tradicionais e movimentos sociais vem se apropriando da cartografia enquanto instrumento de saber/poder para se posicionarem no mundo de forma autônoma, emancipatória e contra hegemônica. Essas experiências enfatizam as representações espaciais como prática social e política, não apenas como seara específica de um ramo científico. Simultaneamente, observa-se no Brasil a articulação de um projeto de desmonte dos órgãos institucionais que fornecem dados sobre a realidade nacional, fundamentais para a pesquisa em Geografia, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Este processo demonstra como o projeto de desvalorização do conhecimento em curso abre espaço para que grandes corporações controlem e monopolizem a produção de dados, informações e representações sobre o país de modo a distorcer a interpretação de Brasil. Nesse sentido, de que maneira a AGB pode contribuir com as discussões em torno das políticas espaciais e suas disputas através da cartografia na atualidade?

Eixo 08: Sociedade, espaço e natureza: o papel da Geografia Física na construção das re-existências
Ementa: O modo de produção capitalista é o motor da crise socioambiental em múltiplas escalas. Sua história - e geografia – é a da exploração dos limites físicos, químicos e orgânicos do planeta. Isto se estrutura por todos os espaços na forma da destruição da natureza. Problemas como o desmatamento de vastas extensões de vegetação nativa, extinções de espécies, a produção e o tratamento de resíduos sólidos nas cidades, a poluição dos corpos d'água, entre outros, representam a degradação sistemática da vida. O aprofundamento da cisão entre a sociedade e natureza, tem no espaço geográfico um dos principais instrumentos de análise dessas contradições e relações sociais. Não se trata apenas da ruptura de barreiras físicas, mas de rupturas em práticas historicamente vinculadas às culturas dos povos, que se expressa também em formas de dominação e exploração, tanto daquilo chamado por “natureza”, quanto dos povos e seus territórios. Os recentes crimes ambientais praticados por mineradoras em Minas Gerais (2015 e 2019), bem como o avanço das queimadas criminosas sobre a Amazônia (2019), o derramamento de óleo no litoral brasileiro (2019) e o enfraquecimento negligente de políticas ambientais, frente aos interesses neo-extrativistas internacionais, são exemplos desse processo. Qual é a importância de se tratar de forma crítica a relação entre sociedade, espaço e natureza? Qual(is) é(são) a(s) natureza(s) estudada(s) pela geografia? Cabe questionar portanto, como a “Geografia (Física)” pode contribuir para a derrubada do atual modelo de sociedade, e mesmo, como pode contribuir para a construção de re-existências.

Eixo 09: Espaço Urbano: contradições, barbárie e r-existência 
Ementa: O espaço urbano tem sido investigado como lócus privilegiado da reprodução do capital. Contudo, o mesmo não funciona apenas como receptáculo, mas também como meio de acumulação capitalista. As múltiplas estratégias de mercantilização da terra urbana, aliada ao mercado financeiro, produz tanto o aumento desenfreado das desigualdades quanto mazelas que se presencia no espaço urbano, provocando processos espoliativos. São expressões máximas desses fenômenos as diferentes disputas pelo poder e controle do espaço urbano, produzindo a fragilização e o extermínio principalmente das populações negras, indígenas, mulheres e LGBTQI+. Em um momento de crise da reprodução e das representações sociais, é mais do que nunca necessária a construção de um pensamento crítico que confronte os modos como o espaço é produzido e reproduzido. É preciso que o conhecimento se debruce sobre as formas como a propriedade privada capitalista da terra vem se realizando no espaço urbano, agora sob domínio do capital financeiro, e desvende as contradições que emergem desse processo de produção espacial. As ações dos movimentos sociais e as lutas sociais se revelam como lutas pelo espaço, pela sua apropriação concreta, uma vez que as relações sociais necessárias à reprodução da vida se materializam como relações espaciais. De um lado, se apresenta o consumo do espaço para novas produções imobiliárias como novas raridades do espaço, por outro lado, avança a expansão dos espaços periféricos, revelando o processo de segregação socioespacial como conteúdo da urbanização contemporânea. Dessa maneira, a interpretação dos processos espaciais são centrais hoje para a construção de um conhecimento concreto da realidade contemporânea, assim como podem apontar as possibilidades de resistência postas no real. Diante desse cenário, que acomete o espaço urbano brasileiro, questiona-se: como resistir e construir novos horizontes? 

Eixo 10: Apropriação capitalista e exclusão no campo: circuitos de produção e resistências Ementa: Com o avanço da modernização agrícola no território brasileiro, as contradições do espaço agrário se agudizam, e novos circuitos produtivos hegemônicos se instalam. Para além dos processos já de longa data como a concentração fundiária, o êxodo rural e a precarização do trabalho agrícola, novas formas de violência – física, institucional e simbólica – se instalam, aumentando a repressão e criminalização dos movimentos sociais. O presente eixo procura analisar estas contradições decorrentes do processo de difusão do meio técnico-científico-informacional no campo, identificando suas principais repercussões. Neste contexto, procura-se ainda discutir os usos da terra e os circuitos alternativos de produção que surgem a partir dos povos e comunidades tradicionais

Eixo 11: Desenvolvimento Regional: novas abordagens e críticas na atual conjuntura 
Ementa: As mudanças nas políticas de desenvolvimento regional evidenciadas nestas primeiras décadas do século XXI têm direcionado as geógrafas e os geógrafos a repensarem métodos e procedimentos de investigação das dinâmicas espaciais. As contradições da ação do Estado, aliada à expansão capitalista em todas as regiões brasileiras, ao mesmo tempo em que contribuem para a concentração de riqueza e poder em grandes empresas e grupos privados (nacionais e internacionais) também aumentam as desigualdades sociais e espaciais historicamente produzidas, promovendo uma violência sistemática com os mais diversos sujeitos sociais. Os grandes projetos de desenvolvimento propostos pelo Estado, a exemplo da delimitação do MATOPIBA, o Projeto de Integração do Rio São Francisco e a construção de enormes empreendimentos portuários no litoral brasileiro, são as representações materiais destas contradições que ocorrem a partir da aliança entre capital e Estado. Observa-se o aparecimento de novas formas de apropriação do território nas diferentes regiões brasileiras, as quais passam a ser consideradas estratégicas para os sujeitos que ocupam cargos no setor de planejamento regional, tanto no âmbito público quanto no âmbito privado, despertando a necessidade de um maior aprofundamento no debate em torno das políticas de desenvolvimento. Tal quadro de referência impõe à geógrafa e ao geógrafo o desafio de fornecer novos parâmetros para a leitura das realidades regionais (e territoriais) no processo de produção do espaço geográfico em suas diferentes relações escalares.


São Paulo (SP), 24 de dezembro de 2019.


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