Relatoria da última audiência pública do Conselho Nacional de Educação sobre a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio


Relatoria da última audiência pública do Conselho Nacional de Educação sobre a Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio, ocorrida no dia 14 de setembro de 2018 em Brasília, no Conselho Nacional de Educação.

Já de entrada encontramos a burocracia impedindo a entrada de várixs trabalhadorxs e estudantxs da educação na participação da audiência, com a justificativa de segurança e de redução de espaço. Cerceando a discussão e impedindo alunos e professores do debate. Sendo que no auditório de realização haviam vários lugares vazios e reservas para pessoas que nem ali estavam. Além de que haviam pessoas que estavam ali e nem participavam fazendo uso das redes sociais com total desrespeito ao espaço de debate. Contudo, por manifestação e exigência do público combativo que ali estavam os conselheiros tomaram a atitude de liberar o público que estava barrado. Cada representante teve apenas três minutos para expor seu posicionamento, alguns tendo a fala cortada no meio da ideia que se desenvolvia, sendo que cada conselheiro seguiu com tempo livre de exposição. Estiveram presentes diversas associações como de escolas evangélicas, educação católica, israelita, waldorf, conif, IF, sinasefe, BRACOm, união marista, federação de psicologia, sbpc, anfop, executiva nacional de pedagogia, comitê pelo ensino religioso, colégio Pedro II, entre outros. Dentre os discursos a grande maioria se posicionou contrária à BNCC e também contrários à lei 13.415 de reforma do ensino médio. Muitas associações tentaram se colocar defendendo o seu campo profissional e religioso, entretanto não fazendo uma análise crítica e global sobre a conjuntura educacional. Algumas colocações foram preocupantes, como exemplo a defesa de uma quarta revolução industrial e necessidade de desenvolver um ensino que propicie raciocínio lógico, aptidão socioemocional e alta capacidade de organização grupal. Tal pensamento culpabiliza o sujeito e nos faz pensar em máquinas e estabilidade social, sendo que a realidade que vivenciamos é totalmente dinâmica e cheia de instabilidade relacional. Foram professorxs da rede, pesquisadorxs comprometidos com a educação e estudantes secundaristas que estiveram presentes e puderam mostrar um pouco da realidade educacional e demonstrar que o problema não está principalmente no currículo, porque já temos a LDB, DCN’s, PCN’s e orientações curriculares, mas sim nas condições de trabalho dos professores, nas condições sociais e de vida dos estudantes, na falta de investimentos no campo educacional, na necessidade em envolver as comunidades, familiares e jovens no ambiente escolar, entre outros. A educação que vem sendo construída de dez anos atrás permitiu uma nova realidade social em que pessoas que negras, indígenas, quilombolas e de baixa renda adentrassem a universidade pública, e que houvesse um minimo de valorização da profissão docente/magistério, porém, isso é o que está despertando parte da sociedade para a exploração e injustiça social que se vive. Com isto, está crescendo uma frente social combativa que não está mais aceitando tal exploração, e é o que está incomodando o setor privado e parte do Estado que apoia tal sistema. O que está em discussão e implementação por parte do governo e da rede privada, é o sucateamento e a privatização do ensino, precarizando cada vez mais a profissão de magistério, reformando os currículos da universidade, criando novo programa de residência pedagógica. A formação do professor na educação brasileira é grave, é preciso focar na carreira e formação docente para desenvolvermos uma educação de qualidade. Tendo uma educação pública obrigatória, e uma população jovem excedente o que mais dá lucro será o setor educacional, a teoria do capital humano na educação é mais que evidente. Se seguirmos com este projeto de governo, projeto de sociedade, projeto de educação que dividi, daqui cinco anos não teremos professores com base para uma educação gratuita e de qualidade. Os itinerários formativos que não vão contemplar outros ambientes que não forem as centralidades e as cidades, excluindo as marginalidades e o campo de poder estar acessando a educação presencial, e priorizando a educação à distância que sabemos não é o mesmo aprendizado. Nós somos seres relacionais e construídos socialmente, e o nosso aprendizado necessita de relações de convivência. Apesar de algumas melhorias na educação em geral, nos últimos dez anos, ainda temos uma educação básica que não se desenvolve pela investigação científica. Por isso, gritamos em vários momentos, sob a força dos companheiros do colégio Pedro II, “educação não é mercadoria”. Assim também os secundaristas representavam dizendo “Eu só vou desistir, abortar minha missão quando educação for ostentação”. E a executiva nacional de pedagogia (ExNEP) com a frase de ordem “Nem reforma, nem intervenção, o povo quer saúde e educação”. O que queremos é desenvolver uma educação que prove condições de igualdades a todos, no respeito às suas diferenças sociais, relacionais e espaciais. E não a definição de dois tipos educacionais e dois públicos sociais. A educação que instrinsecamente carrega o olhar interdisciplinar e amplo que possibilita uma maior proximidade com a realidade vivenciada. Uma educação libertadora, emancipatória, inclusiva para todos. Vemos pelas falas acimas que estamos organizados e nos organizando contra o autoritarismo estatal, isto é o que nos cabe agora, nos unir, contatar e fortalecer cada vez mais nossa rede. Dos conselheiros que ali estiveram, apenas quatro realmente se viam comprometido com as angustias e realidades apresentadas. Aurina Oliveira que falou da importância de se escutar a sociedade, de travar um debate contundente e estudar a inserção do debate étnico-racial na educação. Malvina Tuttman que cobra a inteireza da educação básica e como se dá o processo “democrático” que vem sendo realizado. Marcia Angela, quem, depois de uma cobrança do público sobre a presença de uma mulher na mesa coordenadora da audiência, foi quem a assumiu a mesa. Ela cobra a inteireza da educação básica, denuncia que a reforma do ensino médio é a chave para uma alteração muito mais ampla a nível social, econômico e cultural, a educação superior está nas mãos de cinco grupos poderosos. A educação é política e é projeto de sociedade e o projeto de educação nacional está com a geopolítica de função soberana. Ela assim como os movimentos populares devem lutar para que o Conselho Nacional de Educação seja órgão da sociedade e não do executivo. O Antonio Cesar Callegari também foi um dos conselheiros que se posicionaram contrário à reforma e à base nacional, defendendo a revogação da reforma do ensino médio dizendo que estas promoverão um colapso, apagão do magistério. Acatando alguns depoimentos disse defender uma reforma da sociedade e não do governo, propondo a idealização da discussão mais aprofundada com as organizações civis e que mais audiências públicas sejam realizadas. Mesmo com estas falas, em resumo, o que ficou entendido é que o conselho nacional foi criado exatamente para fazer a criação e aprovação de uma base nacional para a educação e que esta proposta seguirá, sem revogação de lei nem de negação da base nacional. A disputa em questão não é só educacional, é de sociedade, de valores culturais, de política, de território! Assim sendo, seguiremos em luta e articulados com outros movimentos em favor de uma educação pública, laica, de qualidade, igualitária no respeito às diferenças, e libertária, autonomia social. “Haverão tempos em que cada ser humano será seu próprio rei e seu próprio deus” (Elisee Reclus).

Redigida por
Andréa dos Santos Penha
(AGB/Seção local Cuiabá)



Intervenção da Executiva Nacional de Estudantes de Pedagogia (ExNEP) Educação Não é Mercadoria!





Conselheira Marcia Angela assumi a mesa coordenadora.